Começa nesta quarta (11) a 33ª edição do Congresso Nacional da Abrasel, um ciclo de palestras, debates e workshops que vai discutir as mudanças que o setor de restaurantes e congêneres está vivendo por conta da pandemia do coronavírus.
O que aconteceu com o setor nos últimos 18 meses e o que virá pela frente serão o foco da participação de mais de 70 profissionais do mercado, como especialistas, empresários, chefs e autoridades ligadas ao dia a dia das operações. Em pauta estará, principalmente, a retomada do movimento de clientes e a recuperação do faturamento que já vitimou de três a quatro em cada dez estabelecimentos no país.
Ao longo dos três dias de congresso, serão discutidos temas como o futuro da alimentação fora do lar, as tecnologias que podem ajudar a aumentar o faturamento do bar ou restaurante, a melhoria das regras trabalhistas, como se relacionar com as diversas esferas de governo (que foram alvos de críticas por conta das restrições impostas durante a pandemia), entre outros.
Segundo Paulo Solmucci, presidente nacional da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), o principal objetivo do evento deste ano é ajudar os empreendedores do setor a entenderem os novos hábitos e comportamentos que serão mantidos pelos consumidores no pós-pandemia.
“A gente sempre fala que o setor não morre, mas se revigora. Só que as coisas ficaram diferentes, com uma jornada multicanal que começa já antes do cliente chegar no restaurante, diferente de antigamente onde a relação com ele se dava apenas da porta para dentro”, explica.
De acordo com ele, este canal de relacionamento foi profundamente modificado durante a pandemia, onde o proprietário do estabelecimento já não consegue mais ter tanto controle de toda a situação pelo simples fato de que ela não acontece mais apenas no salão, mas da porta para fora.
Para alguns, segundo Solmucci, essa jornada multicanal já vinha se ampliando antes da pandemia, com alguma forma de delivery e interação através das redes sociais. Agora, esta atuação se tornou praticamente obrigatória para todo o setor, e que precisa ser assimilada por todos.
Mais com menos
Essas mudanças todas no jeito de se fazer um restaurante forçou o setor como um todo a avançar, mesmo que deixando muitos para trás. E também provocou um aumento da produtividade para poder suprir as expectativas dos consumidores em casa ou quando começaram a voltar aos salões, ainda com receio de contágio.
“Então onde antes trabalhavam dez, agora trabalham oito na mesma função. Só que surgiram, dentro dos estabelecimentos, novas ocupações que estão ligadas ao relacionamento digital com clientes, e não mais apenas no presencial”, afirma o presidente nacional da Abrasel.
Solmucci reconhece que houve uma mudança muito grande e rápida que “assustou a grande maioria”, gerando dúvidas sobre a capacidade de dar conta de tantos novos detalhes que antes não faziam parte da rotina do restaurante.
Ele cita, por exemplo, as transformações que todos os elos ligados à cadeia do setor tiveram no dia a dia, como aplicativos de varejo que passaram a oferecer delivery, marketplace de restaurantes oferecendo serviços bancários, entre outros.
“É um momento de transição desafiador sob esses aspectos, mas que eu enxergo vai chegar um momento em que os restaurantes serão empoderados frente a tantas opções de serviços que estão disponíveis no mercado para eles escolherem”, diz.
Alguns destes pontos de transformação digital e de finanças serão discutidos em um dos debates do Congresso, com a participação de Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central.
De acordo com ele, os temas que serão discutidos no Congresso da Abrasel vão além de justificar o que aconteceu nestes 18 meses de pandemia e o que modificou nos hábitos dos clientes.
“Veja por exemplo o hábito de fazer reservas, era algo que não tínhamos como costume. Dia desses tentei fazer reserva em cinco restaurantes e não tinha mais disponível”, conta.
Solmucci ressalta que um dos motes mais importantes do evento é a questão da educação, de passar conhecimento e gerar debates produtivos para os empresários do setor – principalmente na questão de se manter os cuidados para evitar um repique de contágio por conta das novas variantes da Covid-19.
Bons negócios
Outro fato que mostra a importância do evento para o setor é a situação de retomada da economia vivida pelos estabelecimentos. Segundo Paulo Solmucci, o faturamento do mês de julho já alcançou níveis semelhantes aos registrados no período pré-pandemia, e a expectativa é de continuar assim pelo restante do ano.
Para ele, isso mostra que o mercado está reagindo e se recuperando, mesmo que as contas acumuladas ao longo da pandemia ainda levem pelo menos mais dois anos a serem pagas. E, ainda, ele espera que os processos por reparação dos danos causados pelos decretos restritivos avancem pelo país, com medidas fiscais que possibilitem o ressarcimento dos gastos que o setor teve com tributos e faturas de serviços públicos que continuaram a ser pagos mesmo com as portas fechadas.
Por Guilherme Grandi
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