O avanço da vacinação contra o coronavírus no país deve evitar novos repiques da doença e permitir um crescimento sustentado do movimento de volta aos restaurantes. É o que revela a mais recente pesquisa de consumo feita pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas com a Alelo, empresa de benefícios, divulgada na semana passada.
De acordo com o levantamento, os gastos de clientes com vale-refeição teve um aumento de 6,1% em maio na comparação com abril, e de 5,2% em volume de vendas. O resultado do mês é um reflexo do crescimento nos ganhos do setor de serviços no mês, em geral de 1,2% segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – o segmento de alimentação e alojamento teve uma alta de 18% na comparação com abril.
O aumento das vendas e dos gastos em maio veio na esteira do repique da terceira onda de contágio do coronavírus que fechou bares, restaurantes e lanchonetes durante praticamente todo o mês de março e parte de abril. No período, o desempenho do setor despencou em torno de 62%, recuperando os ganhos da metade para o final do mês.
Desde então, o levantamento da Fipe e da Alelo mostram uma recuperação que acompanha o ritmo de vacinação e o arrefecimento da pandemia. Bruno Oliva, coordenador de pesquisas da instituição, acredita que a expectativa é de que o pior realmente já tenha ficado para trás.
“A expectativa é de que agora o crescimento seja mais sustentado, não tenha mais essas ondas que vieram com os lockdowns, tanto o primeiro [em 2020] quanto estes dois últimos. A vacinação parece que agora engrenou, e agora haja uma melhora continuada”, explica.
Com isso, o setor de serviços em geral já acumula ganhos de 2,5% em dois meses, mas ainda abaixo das perdas registradas em março (-3,4%). Mesmo assim, o IBGE afirma que essa melhora no cenário já dá sinais de aquecimento na maior parte dos segmentos de atividades.
Embora o consumo nos restaurantes tenha crescido no mês de maio, a curva do volume de vendas não acompanhou os gastos. A pesquisa revela que ocorreram menos transações, mas com um tíquete-médio mais alto.
Segundo Bruno Oliva, um dos motivos para isso pode ter sido a continuidade do home office em muitas empresas, fazendo com que mais pessoas passassem a consumir em apenas um cartão de benefício alimentício – verificado desde abril do ano passado, quando a distância entre volume e valor de transações passou a ficar mais distante.
“Se antes o trabalhador ia, no dia a dia, almoçar no restaurante [sozinho], agora ele vai e almoça com os filhos e o cônjuge. Então aumentou o tíquete-médio, com o valor de transações maior que o volume”, analisa.
Este aumento não considera a inflação de 7,93% acumulada de maio de 2020 ao mesmo mês de 2021, que foi descontada do apurado na pesquisa. O levantamento também aponta que, embora o volume de vendas tenha crescido menos que o valor gasto, a melhora da economia em geral também fez crescer o número de estabelecimentos em funcionamento.
A pesquisa da Fipe com a Alelo mostra um crescimento em torno de 14% na quantidade de restaurantes e demais negócios de alimentação. Rodrigo Lobo, gerente da pesquisa do IBGE, explica que o volume dos serviços prestados à família, do qual faz parte o segmento de alimentação, teve a maior alta entre todas as atividades (17,9%), embora represente o menor peso no índice (5,6%).
“A atividade de serviços prestados às famílias, no entanto, continua muito distante do patamar pré-pandemia: 29,1% abaixo”, disse.
No apanhado por regiões, a recuperação das atividades em maio foi mais consistente no Sudeste (7,2%), seguido pelo Nordeste (4,2%), Norte (3%), Sul (0,8%) e Centro-oeste (0,3%).
Recuperação
Na comparação com os mesmos meses de 2019, ou seja, sem a presença da Covid-19, as quedas ainda são consideráveis. O volume de vendas em maio de 2021 está 46,2% abaixo do registrado em tempos “normais”, e os gastos foram 27,1% menores.
Isso mostra, segundo Bruno Oliva, que a recuperação plena a níveis pré-pandêmicos ainda é algo distante no radar, mesmo com o avanço sustentado da economia.
“É uma mistura de uma melhora na economia, as pessoas estão gastando mais; reabertura de restaurantes e bares que, em alguns lugares, foram os que mais fecharam na aceitação de clientes na loja; e cada vez mais o uso dos deliveries. E como os estados e as próprias cidades estão se adaptando de formas distintas, movimentos e ritmo distintos, essa retomada vai em velocidades distintas em cada unidade da federação”, analisa.
Entidades representativas de classe como a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) e a Associação Nacional de Restaurantes (ANR) afirmam que uma recuperação plena dos estabelecimentos virá apenas para o final de 2022 e no ano de 2023.
Por Guilherme Grandi / Foto: Bigstock